terça-feira, 25 de agosto de 2009

O QUE O SILÊNCIO TEM A NOS DIZER


Por: Larissa Forni dos Santos

Muitas pessoas queixam que ao procurar o psicólogo ficaram incomodadas porque ele fica em silêncio só esperando que a pessoa fale e ele não fala nada. Em contra partida, muitos psicólogos ficam sem reação, sem saber como entender a postura silenciosa da pessoa que o procura.

O tema silêncio, sobretudo do paciente, apesar de polêmico, é pouco discutido em Psicanálise, teoria que adotaremos para pensar no assunto. Por muitas vezes ele é visto como uma forma de resistência, mas devemos passar a vê-lo como uma diferente maneira de se comunicar (Zimerman, 1999).

Segundo o autor, o silêncio interpretado como resistência se dá pelo fato de que o processo analítico teria como pressuposto básico a livre-associação, quando em silêncio, o paciente quebra, vai contra a parte essencial da psicanálise, visto então como resistente ao processo terapêutico.

Zimerman (1999) apontou que o silêncio pode ter diferentes significados, considerando que ele tem muito a nos dizer, sendo uma forma de comunicação entre terapeuta e paciente. Destaca que ficar em silêncio durante o processo terapêutico é ainda mais comum em adolescentes.

O paciente adolescente tende a levar tudo para o concreto, exigindo respostas imediatas, chegando a mesclar o real com o imaginário. Ao falar, o faz como se fosse adulto, por várias vezes irá cobrar do analista opiniões e conselhos e caso estas contrariem seus pensamentos, os sentimentos de frustração e magoa aparecerão com facilidade.

Frente a estes sentimentos, o adolescente tende a reagir por meio de actings (ações), que podem consistir em faltas freqüentes e, conseqüente abandono da terapia ou também, por meio de longos períodos de silêncio durante as sessões, ou até mesmo o silêncio absoluto durante muito tempo da análise.

Zimerman (1999) afirma que temos que nos ater ao silêncio como uma forma de comunicação e pensá-lo como um “idioma desconhecido” que precisa de tradução. O analista precisa então, nos momentos de silêncio, pensar nos tipos de comunicação não verbal que são estabelecidos, uma vez que durante o processo analítico existem momentos em que as palavras não conseguem exprimir o que está acontecendo.

Desse modo, o analista deve estar preparado para a escuta das diferentes formas de comunicação do analisando. A forma de comunicação aparece separada didaticamente em verbal e não-verbal. Ambas, a priori, têm a função de comunicar algo, contudo nem sempre esta função é real, às vezes, como afirmado por Bion, o discurso pode estar a serviço da incomuncação como forma de ataque aos vínculos perceptivos.

Para saber mais: ZIMERMAN, D.E. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1999.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

NOVAS ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR


Por: Larissa Forni dos Santos

No texto “Avaliação Psicológica na Educação: Mudanças Necessárias” (Machado, 2000), a autora questiona qual o objeto de análise quando se faz um diagnóstico de uma criança encaminhada ao serviço de psicologia.

Ela ressalta a importância de não se ater à criança, é preciso que se olhe para o processo de produção da queixa escolar, pois esta é composta por uma história coletiva. Desse modo se faz necessária à busca pelos processos que constituem a queixa escolar e alternativas para dissipá-la.

Assim, o psicólogo deve intervir no processo de produção da queixa escolar com o objetivo de rescindir tal produção, discutindo não só o caso encaminhado, mas também o funcionamento das relações escolares onde a criança encaminhada de insere.

A estratégia de intervenção que a autora propõe é divido em quatro momentos, sendo eles:

(1) Pesquisar os bastidores dos encaminhamentos, a versão de vários profissionais e a história escolar da criança: conversas com os profissionais da escola, expectativa dos professores, pesquisa de prontuário, observar a organização da escola (montagem de turmas, espaço físico);

(2) Encontro individual com a criança encaminhada e conversa com os pais: explicar à criança e aos pais o objetivo do trabalho, entender como as coisas tinham acontecido e pensar o que pode ser mudado na escola;

(3) Encontro em grupo com as crianças, conversas com os professores para discussão : é feito um trabalho em grupo com as crianças encaminhadas para atendimento psicológico por queixa escolar, são problematizadas questões sobre aprendizagem, da história escolar e das diferenças entre elas, potencializando a diversidade;

(4) Encontros individuais com as crianças e leitura do relatório com os personagens envolvidos no trabalho - crianças, professores e pais: com as crianças que apresentam necessidade, após o termino do trabalho em grupo é feito atendimento individual com a tarefa de conhecer o que não está indo bem na vida escolar e o que pode ser feito para melhorar. Depois é redigido um relatório o qual é lido com a criança, professores e pais e entregue uma cópia para a escola.

Desse modo, o psicólogo circula por vários ambientes, conversa com profissionais e parentes, cria acontecimentos e chega a um relato sobre o que se fez durante o tempo de trabalho, o quanto conseguiu com ação de vários personagens. É possível, então, que psicólogos que trabalham com crianças encaminhadas por escolas, direcionem o trabalho com o objetivo de romper a produção da queixa escolar.